Hoje é dia de soltar!
Isso mesmo! E soltar não é saltar, apesar que para saltar é preciso confiar, não é mesmo?
Não saltaríamos se não confiássemos que estaríamos bem depois de uma aventura.
Mas especificamente hoje quero me referir ao dia da paixão de Cristo. Sou de família católica e quando criança, era um dia que eu tinha muito medo. Eu sempre ia às 15h à cerimônia do Senhor morto, onde no centro do altar ficava uma estátua em tamanho real de Jesus morto, ali começava o medo do dia. Ah! Tinha de tocar aquela estátua que parecia toda ensanguentada. Não sabia o que eu sentia mais: dó ou pavor. Pior “Ele” tinha olhos entreabertos, e minha estatura infantil me fazia ficar do ladinho do rosto dele. Eu tinha certeza que “ele” me olhava, e sabia tudo o que eu tinha feito a quaresma inteira.
E sem falar que não podia ouvir músicas ou dançar aquele dia, aliás dançar era vetado durante a quaresma inteira, e minha mãe com suas estratégias eficazes já dizia: se dançar na quaresma cresce rabo!
Eu dançava escondido e olhava pra traz para ver se tinha nascido mesmo rabo ali…
O meu terror continuava nas noites de sextas-feiras santas, na procissão do Senhor morto. Aquela estátua percorria as principais ruas da cidade e ao lado Dele, várias senhoras vestidas de preto com véus roxos (acho que é por isso que não gosto dessa cor). E antes da procissão, minha tia Lídia com uma voz maravilhosa para cantar, a quem eu tanto amava e respeitava, vestia-se de preto, véu roxo que cobria todo seu rosto, e luvas pretas…posicionava-se na marquise da igreja, e começava a cantar com sua linda voz, músicas em uma língua “estranha” para mim (era hebraico). A praça toda naquele silêncio terrível, enquanto ela desenrola a um lenço com o rosto de Jesus registrado com sangue.
Eu não sabia o que era mais aterrorizante, a estátua de Jesus morto, aquele monte de senhoras vestidas de mortas, ou a minha tia tentando hipnotizar a gente com aquela música estranha mostrando o registro do sofrimento de Jesus. Lembro da minha irmã e meus primos quase entrando embaixo das saias de nossas mães e tias. Tudo aquilo para nós crianças era traumatizante.
Hoje penso que tudo isso nos ensinou algo que só consigo refletir agora, na casa dos 50 anos de vida, comparando toda representatividade da morte de Jesus com a nossa vivência hoje.
Quando estamos diante de alguma dificuldade precisamos mesmo “morrer”…calma vou explicar!
Quando estamos em um beco sem saída, diante de um problema precisamos soltar, entregar para receber uma solução.
Jesus fez seu pedido à Deus, e vejo que na morte não ficamos preocupados, nervosos, com insônia, ansiosos…na morte não há mais nada para fazer, correto?
Percebo hoje que diante de uma situação desafiadora ou até mesmo de algo que desejamos realizar e não temos como, precisamos entregar, soltar, confiar que algo “divino” irá fazer o que eu não posso conquistar sozinho. Que algo maior (dentro da sua crença) vai realizar mais, de um jeito tão especial e até surpreendente.
Quando olho hoje para essa parte da história de Jesus, me remeto a isso: Ele precisou se entregar, soltar…
” Em suas mãos eu me entrego, Oh Pai”.
E o que parecia impossível aconteceu 03 dias depois. Mas Ele não ressuscitou assim que tiraram seu corpo da cruz. Existe um tempo para gestar, para transformar o pedido em realidade.
Mais uma vez é preciso soltar, confiar, agradecer e entregar. E o “impossível” se escancara na sua frente, de presente para você.
Quando criança, se eu soubesse que era isso que aquele Jesus morto queria me dizer quando me olhava com os olhos entreabertos, deitado ali no altar, eu não passaria uma vida inteira com medos, preocupações e ansiedades diante do queria e quero realizar na minha vida.
Um grande abraço e feliz dia do soltar!
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