Lembro-me de uma situação da minha infância que, na época, eu não conseguia compreender bem. Estava com meus pais em um ambiente desconhecido e sentia medo. Não sabia como expressar o que estava sentindo, apenas sabia que algo não estava certo. Meu corpo tremia, meu estômago doía, e eu sentia um desconforto profundo, mas não sabia por quê. Olhando para isso hoje, com o olhar da psicologia e da neurociência, percebo que aquela era uma forma de desamparo aprendido. Eu não tinha os recursos emocionais ou a capacidade de nomear os sentimentos ou entender as situações de forma clara. E, como muitas crianças, lidava com aquilo sozinha, sem entender o que era medo, tristeza ou insegurança.

Quando éramos crianças, muitas vezes não sabíamos o que eram sentimentos de fato. Não conseguíamos distinguir com clareza o que era bom ou ruim. Sem a maturidade necessária, lidávamos com situações que, por vezes, nos causavam confusão e angústia. Muitas dessas experiências podem ter gerado traumas que carregamos até hoje. Outras, no entanto, podem ter desenvolvido em nós uma força e resiliência surpreendentes.

Para muitos, ao recordar a infância, surge um sentimento de pena por aquele “eu” pequeno e vulnerável. O que não percebemos de imediato é que fomos capazes de sobreviver, mesmo sem os recursos emocionais e de compreensão que temos agora. Se olhássemos para essas memórias com mais profundidade, talvez sentíssemos orgulho do que conseguimos superar. Muitas crianças, enfrentando desafios sem saber nomeá-los, aprendem a lidar com o desamparo de uma forma instintiva.

A neurociência fala sobre o “desamparo aprendido”, que ocorre quando, após repetidas experiências de impotência, o cérebro começa a acreditar que não há saída, levando a uma resposta passiva diante de adversidades. Este padrão, quando enraizado na infância, pode refletir na vida adulta, causando dificuldades em enfrentar desafios. No entanto, ao nos permitirmos ressignificar essas memórias, podemos reconhecer a força que foi necessária para chegar até aqui.

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